Tinha onze anos quando recebi como
presente O Diário de Anne Frank e, mal
iniciei a sua leitura, não consegui parar, passando todo o fim de semana com
este extraordinário relato da vida duma jovem um pouco mais velha do que eu, mas
que tinha sido impedida de viver por ser judia. Obrigada pelo Nazismo a fugir
da sua casa e a abandonar a sua escola e os seus amigos, Anne vive alguns anos escondida
num cubículo, na Holanda. Vive, com os pais e a irmã, permanentemente com medo,
pois se forem encontrados é a morte que os espera. Coloca no papel – o seu
diário – os seus receios, as suas interrogações e os sentimentos de qualquer
adolescente da sua idade.
Este livro marcou-me, talvez por ser um
relato na primeira pessoa e em que a escritora/protagonista tinha as mesmas
inquietações do que eu, jovem a entrar na adolescência. Este livro despertou-me
para a necessidade de lutar por ideais, de intervir na sociedade, para que
horrores como o nazismo nunca mais voltassem a acontecer. Li o livro antes do
25 de Abril. Em Portugal vivia-se numa ditadura e o país estava em guerra, a guerra colonial, uma guerra injusta. Senti
o medo da Anne como próximo, pois em Portugal também se vivia com medo, embora
num grau diferente. Ao longo da minha adolescência voltei a ler o livro mais
uma ou duas vezes com o mesmo sentimento de revolta, mas também com a mesma
cumplicidade, sempre presentes.
Cristina Amaro
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